Mergulhados no mundo online voltamos à caverna de Platão

 


Tenho visto muitas pessoas buscando os Exercícios Espirituais no último ano. São tantas chances de encontrar e ouvir a Deus no fundo do coração; de ficar quieto e ver os nossos falsos deuses e o quanto gastamos tempo com coisas que nos iludem e nos tiram do caminho, como o Pe. Pablo d’Ors ensina. A experiência do deserto é isso: nos mostra o que realmente nos dá força, revelando a nossa verdade. Mas o silêncio que precisamos, durante os EE, está cada vez mais difícil de conseguir.

Será que ficar online durante o retiro prejudica a oração?

É fácil achar exercitantes, de todas as idades, grudados na internet e nas redes sociais; que usam o celular e pensam que o WhatsApp não faz mal ao retiro. Tem também quem aproveite para ver as séries que não deu tempo de ver durante o ano, ou mesmo postar as suas fotos nas redes sociais - para mostrar que está rezando.

A chance de se encontrar e se desligar, que deveria ser simples e natural durante os EE, vira um peso. A detox do online, da conexão o tempo todo, gera ansiedade, falta de foco e muita distração. Sem entrar nesse mundo, muitos exercitantes viram “zumbis”; andam, comem, escutam os pontos de quem dá o retiro, mas a “vida de verdade” está longe deles. Nestes momentos de retiro, o que eles sentem falta é mesmo da vida online, a interioridade fica de lado.

Sem interioridade nem silêncio, não abrimos em nós a vida nova e eterna.

Mergulhados no mundo online, podemos voltar à caverna de Platão, onde olhamos as sombras em vez da vida real que está dentro e fora de nós. O Pe. Pablo d’Ors nos alerta que sem o silêncio, não brotará em nós a nossa identidade mais profunda e, assim, podemos perder a chance de ver quando algo maravilhoso nos tocar.

O Cardeal Tolentino diz que o problema não é da oração, mas do humano. Ele diz que é preciso mudar o humano para que se comece a “peregrinação interior”, a crise é nossa e não da oração (Tolentino, Rezar de olhos abertos). Discernimento é fundamental! Como chegar a uma escuta pessoal profunda, uma escuta sincera do outro, sem oração nem silêncio? Sem interioridade, podemos ficar na mesma; e, sem transformação espiritual, podemos não ver a mudança de rumo ou de pensar no que está acontecendo na minha vida e vocação (os sinais do tempo) . 

É bom, mais do que nunca, fazer eco a Etty Hillesum no “ajudar a Deus a nos ajudar”! Neste ano que começa, esta é uma decisão essencial: dar espaço, criar oportunidade, se desconectar, ficar quieto, prestar atenção e saborear a presença, nos levando a uma escuta da voz profunda que dá sabor novo e vida nova, desafiando tudo que manipula a nossa vida e tirando o véu do dia a dia, mostrando a Deus no mais simples e comum. Ele está no meio de nós.

E você, como tem vivido a sua experiência de oração e silêncio? Como tem se conectado com Deus e consigo mesmo? Como tem se desconectado do que te tira a atenção e te afasta do essencial? Conte para nós a sua opinião e o seu testemunho.

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postado primeiro em Exercícios Espirituais em tempos de conexão – Rede Servir

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