Parteiro da alma



GUENTHER, Margaret. Holy Listening: the Art of Spiritual Direction, Boston, MA: Cowley Publications, 1992. p. 81-108. Traduzido por: Raniéri de Araújo Gonçalves, SJ.* 


Cuide apenas do nascimento em você e vai encontrar toda a bondade e toda a consolação, toda alegria, todo o ser e toda a verdade. Rejeite-o e rejeitará a bondade e a bênção. O que vem a você neste nascimento traz consigo o puro ser e a bênção. Mas o que você procura ou ama fora deste nascimento o levará ao nada, não importando o que deseja ou onde você vai (Mestre Eckhart).


Havia alguém dentre os fariseus, chamado Nicodemos, um dos chefes dos judeus. A noite, ele foi se encontrar com Jesus e lhe disse: "Rabi, sabemos que vieste como mestre da parte de Deus, pois ninguém é capaz de fazer os sinais que tu fazes, se Deus não está com ele". Jesus respondeu: "Em verdade, em verdade, te digo: se alguém não nascer do alto, não poderá ver o Reino de Deus!" Nicodemos perguntou: "Como pode alguém nascer, se já é velho? Ele poderá entrar uma segunda vez no ventre de sua mãe para nascer? (Jo 3,1-4).


O rel do Egito disse às parteiras dos hebreus, chamadas Sefra e Fua: "Quando assistirdes as mulheres hebreias no parto e chegar o tempo do parto, se for menino, matai-o; se for menina, deixai-a viver. Mas as parteiras tinham temor de Deus: não faziam o que o rei do Egito lhes tinha mandado e deixavam viver os meninos. Então o rei do Egito mandou chamar as parteiras e lhes disse: "Por que agistes desse modo e deixastes os meninos viver?" As parteiras responderam ao faraó: "As mulheres hebreias não são como as egípcias. Elas são robustas e, antes de a parteira chegar, já dão à luz. Deus recompensou as parteiras. O povo continuou crescendo e tornando-se muito forte. Como as parteiras temeram a Deus, deu-lhes também família. (Ex 1,15-21).


Sefra e Fua são nomes muito pouco conhecidos! Estas duas mulheres intensamente práticas e corajosas estão escondidas na rica narrativa do Êxodo, merecendo apenas algumas linhas do texto, quando comparamos com o exaustivo relato da liderança de Moisés sobre Israel. Dizem-nos pouco além de seus nomes, mas o que seria da história sem essas parteiras tenazes e guardiães astutas da nova vida?

Ironicamente, Sefra e Fua figuram como guardiães na história do Êxodo e, em última análise, em nossa história. Nosso álbum de família é a palavra de Deus retratada por autores masculinos e tratam principalmente de iniciativas e experiências masculinas; no entanto, está pontuado por narrativas de gravidez e parto, histórias de vida nova que redirecionam e transformam. Sefra e Fua estão unidas neste álbum a Agar, que fugiu para o deserto com seu filho; Sara, que riu diante da ideia de sua maternidade; Raquel, que chorou por seus filhos; e Ana, cujo fervor na oração para ter um filho foi confundido com embriaguez. Essas mulheres cruciais do Antigo Testamento nos preparam para a história, o grande mistério da Encarnação, tornada imediata e vivida na sensível narração de Lucas. Cada mulher que carregou uma criança dentro de si ecoou a pergunta de Maria ao anjo: "Como pode ser isso?" mesmo que tenha experimentado a alegria de Maria, também sentiu medo, perplexidade e sua necessidade de solidão e companheirismo. 

A linguagem da piedade está carregada de imagens de parto. Mesmo Paulo, um misógino de renome, descreve o desejo de Deus em termos da primeira etapa do trabalho de parto:


Com efeito, sabemos que toda a criação, até o presente, está gemendo como que em dores de parto, não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos em nosso intimo, esperando a condição filial, a redenção de nosso corpo.


Paulo parece saber o que está falando, que o nascimento é um processo difícil, doloroso e confuso. Mais forte de todos, porém, é o Evangelho de João no relato da conversa de Jesus com Nicodemos, o fariseu que lhe veio à noite, secretamente e movido pelo mistério (cf. Jo 3,1-4). Jesus responde à sua pergunta, antes que a faça, dizendo ao buscador talvez mais do que ele quer ouvir: você deve nascer de novo. Há ironia e humor nesta história como dois homens instruídos discutem a logística do nascimento e como repetir uma experiência aparentemente irrepetível. Nicodemos, como Maria, exclama maravilhado: "Como pode ser isso?"

O Antigo Testamento contém uma imagem poderosa de Yahweh como uma parteira. O salmista declara:


Foste tu que me fizeste sair do selo materno, me fizeste descansar sobre o peito de minha mãe. Quando nasci me acolheste, desde o seio materno tu és o meu Deus. (SI 22,10-11).


Colocados, como estão no Salmo 22, junto ao grande grito de desolação e abandono dado por Jesus na cruz, estes versos são especialmente pungentes. Somos lembrados de que a parteira ajuda a vida nova a surgir e protege-a; ainda mais do que a mãe, ela é a terna guardiã de sua segurança. Apesar de décadas de leitura deste salmo e de ouvi-lo lido solenemente a cada Quinta-feira Santa, eu passava alheia a este convincente retrato de Deus como ajudante de nascimento até que um dia as parteiras saltaram sobre mim daquela página. Sefra e Fua podem muito bem ficar como um ícone, as antepassadas de todas as parteiras, mas por trás delas está outro guardião fiel da vida nova. O Senhor é meu pastor, nada me faltará. O Senhor é meu parteiro; serei mantido em segurança.

As imagens maternas e de nascimento das Escrituras, junto com suas histórias de natividade tão milagrosas quanto comuns, tornaram-se tão comuns em nossa consciência religiosa que correm o risco de passarem ao segundo plano como um papel de parede sem graça espiritual. "Nascer de novo" tem um viés carismático e quase desencarnado; assim, para os cristãos tradicionais, cheira a excesso emocional. A Anunciação, também, tornou-se metáfora, transformada por artistas, desde Hans Memling até os artesãos anônimos de cartões de Natal, em um belo quadro, em vez de um encontro aterrorizante. Ajuda a limpar a cena de toda piedade sentimental, se alguém é capaz de imaginar isso ocorrendo na normalidade da vida diária. Como me sentiria, me pergunto, se o anjo aparecesse em minha cozinha, no final de um longo dia? Ou se estivesse me esperando em meu escritório quando voltasse, esgotada, de uma aula ou de uma reunião do colegiado? Portanto, essas e outras histórias de nascimento e parto não são mero pano de fundo, mas formam a rica matriz de nossa fé.

Um dos efeitos libertadores do movimento das mulheres foi tornar uma grande quantidade de experiência humana disponível, aceitável e utilizável. Assim como Bertolt Brecht revolucionou o teatro, apresentando o ordinário como extraordinário, esta nova e ampliada perspectiva possibilita novas formas de ver e de fazer as conexões. É muito fácil ver as imagens de nascimento nas Escrituras (e na linguagem da piedade popular) como abstrata, sem derramamento de sangue, distante da experiência humana. No entanto, se tivesse que citar minha própria experiência espiritual ou teológica mais profunda, sem hesitação, citaria o nascimento de meus três filhos. Isto não tem nada a ver com o meu carinho para com os bebês, em geral, como todas as pessoas, eles podem ser charmosos ou difíceis, atraentes ou não nem com o meu relacionamento pessoal (e tendencioso) com meus próprios filhos. Em vez disso, cada parto foi um vislumbre do mistério da Criação e da Encarnação.

É o momento em que, nas palavras do místico Mestre Eckhart, assistimos à nova vida em nós. Algumas de nós deram à luz; outras testemunharam ou ajudaram a trazer bebês ao mundo. Certamente, todos nós lemos livros, vimos filmes e ouvimos histórias; todos nós temos os nossos medos, revolta, inveja e fascinação com o nascimento, e não necessariamente nessa ordem. O mais importante é que todos nós nascemos. Todos nós começamos no abrigo escuro do útero materno e fomos trazidos à luz. Embora possamos morrer sozinhos, ninguém nasceu sozinho, então o nascer pressupõe relação, conexão e comunidade.

Embora tenhamos experimentado o processo de nascimento humano, nascemos de novo em nosso batismo. Se Eckhart deve ser levado a sério, damos à luz e nascemos repetidamente: o nascimento de Deus em nossa alma é o nosso verdadeiro nascimento. Como as mulheres hebreias no Egito, precisamos de ajuda. Precisamos de parteiras, estas assistentes cuidadosas que Deus "trata bem".

A imagem da orientadora espiritual como parteira me inspira, pois eu gostaria de emular Sefra e Fua em sua coragem e compromisso. Ou eu poderia modelar minha função de parteira espiritual a partir da mulher celta, que servia de parteira de joelhos "mulher ajoelhada" ou "mulher-ajuda", e que fazia do parto um sacramento. Conforme descrito por Alexander Carmichael em sua obra Carmina Gadelica[1], o recém-nascido era levantado acima do fogo por três vezes e, em seguida, carregado três vezes em volta do fogo na direção do sol. Então a parteira prosseguia com o ritual:


Quando a imagem do Deus da vida entrou no mundo, coloquei três pequenas gotas de água na testa da criança. Coloco a primeira gotinha em nome do Pai, e as mulheres assistentes dizem Amém. Coloco a segunda gotinha em nome do Filho, e as mulheres assistentes dizem Amém. Coloco a terceira pequena gota em nome do Espírito Santo, e as mulheres assistentes dizem Amém. Rogo aos Santíssimos Três que lavem e banhem esta criança e a preservem neles mesmos. E as mulheres que assistem dizem Amém. Todas as pessoas da casa estão levantando suas vozes com as mulheres assistentes, dando testemunho de que a criança foi confiada à Trindade bendita. [2]



Este ritual era o "batismo de nascimento": a criança seria formalmente batizada oito dias depois.

Acima de tudo, sinto-me atraída pela avó Apalache[3] de tempos antigos, que estava disposta a viajar a pé ou de mula no terreno acidentado das montanhas do sul para estar presente em nascimentos remotos e humildes. Ela vive na tradição oral, mas sua imagem está desaparecendo. Imagino-a como imperturbável, cheia de uma compaixão robusta e capaz de se contentar com qualquer coisa que tivesse à mão.

É importante lembrar, contudo, que a parteira não é necessariamente uma mulher casada, ou até mesmo uma mulher. O significado literal da palavra é "com-mulher", ou seja, a pessoa que está com a parturiente. Até tempos recentes a maioria das mulheres davam à luz com a ajuda de outra mulher, cujo conhecimento baseava-se apenas em sua própria experiência de dar à luz. Durante os séculos XIX e XX, a prática ficou fora de moda e até foi legalmente suprimida nos países industrializados, mas a profissão de parteira agora está desfrutando de um ressurgimento. A nova geração não pertence ao grupo das mulheres ajoelhadas nem às avós, mas são profissionais de saúde altamente qualificadas.

Como a parteira, os orientadores espirituais são "com mulheres" e "com homens". Enquanto dar à luz biológica é uma prerrogativa do sexo feminino e as parteiras são tradicionalmente fêmeas, no ministério da orientação espiritual, anatomia não é um destino. Assim, o imaginário feminino e a linguagem deste capítulo não implica exclusividade. Tanto homens como mulheres podem ser parteiros sensíveis da alma.


O que a parteira faz

A parteira está presente a outra pessoa em um momento de vulnerabilidade, trabalhando em áreas que são profundas e íntimas. É uma relação de confiança e respeito mútuo. Diferentemente da maioria dos médicos, ela não teme que seu profissionalismo será ameaçado por um grau de intimidade com as mulheres que vieram a ela pedindo ajuda. Ela está disposta a ser chamada por seu nome de batismo, enquanto se dirige à parturiente pelo dela. Ela faz as coisas com, não para, a pessoa que dá à luz.

A parteira é também uma professora, no melhor sentido da palavra, uma vez que ela ajuda a parturiente a caminhar na direção de um autoconhecimento cada vez maior. No início do relacionamento, ela emprega tempo para estabelecer um relacionamento confortável em que nenhuma pergunta é irrelevante ou "burra". Como os autores de The Complete Book of Midwifery (Livro completo da profissão de parteira) nota: "Quase todas as pacientes a quem prestamos o nosso serviço nos disseram que se sentiram muito mais confortáveis e livres para serem elas mesmas com a gente. Eles não têm vergonha de fazer perguntas pessoais, de expor seus medos e seus corpos." A parteira convida-nos a fazer perguntas e, em seguida, gasta tempo para respondê-las: "Nós não nos sentamos atrás de uma mesa cheia de papéis para perguntar se a paciente tem alguma dúvida. Nós nos sentamos sempre ao lado dela e deixamos que fale o quanto quiser, especialmente durante as primeiras consultas do pré-natal, quando ela geralmente está repleta de perguntas"[4].

A parteira auxilia em um evento natural. Ao contrário do médico, ela não lida com doença ou patologia, mas é experiente o suficiente para procurar ajuda quando estas estão presentes. Não se apoia em doses pesadas de drogas para eliminar dor e nem em memória maçante. Tradicionalmente, usa as mãos, em vez de instrumentos ou ferramentas. Ela as usa para limpar o suor da testa; para segurar a mão da parturiente; e, finalmente, para guiar, firmar e receber o bebê. Sob sua orientação, o parto é um processo humano, baseado no contato humano simpático ao longo de todo o processo.

Uma parteira vê claramente o que a parturiente não pode ver. Ela conhece que o período de transição: um tempo da desolação, de dor aparentemente incontrolável e náuseas, como um sinal de avanço e de grande progresso. Ela pode encorajar e interpretar quando a parturiente sente que perdeu o controle e não conseguiu. Sabe quando a parturiente deve empurrar, quando deve segurar, quando deve respirar profundamente, e quando ofegar em respirações superficiais. O corpo da mãe deve saber disso instintivamente, mas o medo e a dor podem levá-la a esquecer.

A parteira sabe como e quando a confrontar. A arte do confronto é delicada e é, às vezes, erroneamente confundida com um ataque desastrado. Confrontar é, literalmente, enfrentar outro; no trabalho de parteira, tanto física como espiritual, o desapego amoroso de quem presta ajuda pode trazer clareza à situação. As vezes é um simples reconhecimento da intensidade da dor: "Não tenha medo de reclamar, mesmo de gritar. Não tenha medo de pedir ajuda". Em outras ocasiões, é um lembrete de que a parturiente ainda está no controle e tem o poder de ajudar a si mesma, assim, talvez gritar seja uma reação melodramática e autoindulgente naquele momento. Como um bom treinador ou professor ou líder em combate, a parteira é capaz de empenhar o coração, perguntar e até mesmo exigir o aparentemente impossível. Finalmente, a parteira se alegra com o bebê. Com a parturiente, é capaz de celebrar a beleza e o absurdo dessa pequena nova criatura.


Fatos da vida

Quando comecei a fazer o trabalho de orientação espiritual e senti-me chamada a ajudar no trabalho de parto espiritual dos outros, fiquei impressionada com as semelhanças com o processo de nascimento físico. Para quem ainda não experimentou o trabalho de parto e nascimento em primeira mão, os parágrafos que se seguem tecem um breve esboço do progresso da gravidez e do parto, juntamente com o processo espiritual análogo. (Como sugiro a meus alunos no seminário, um velho filme da Cruz Vermelha pode servir a este propósito da mesma forma!).

Em primeiro lugar, há um longo período de espera e incerteza. A gestante pensa: talvez não esteja realmente grávida, mas de alguma forma me sinto diferente. A gama de experiências e sentimentos durante este tempo é surpreendente - alegria se mistura com tristeza, expectativa ansiosa com sonolência desacostumada. Para algumas, vem a náusea, e quase todas experimentam o fenômeno da mudança de paladar todas as piadas antigas sobre picles e sorvete têm sua base na experiência humana. Uma mulher prestes a dar à luz se sente como se tudo estivesse mudando; emoções tornam-se extremas e não confiáveis. Quase simultaneamente, a mulher grávida se sente em desamparo e com grande poder, esperança no futuro e medo do desconhecido. Extrovertidas tomam-se introspectivas e surpreendem-se com sua placidez bovina. Com o tempo, essa sensação de distorção toma-se física, bem como emocional: seu corpo parece simplesmente errado, fora de forma e desconfortavelmente apertado ao redor da cintura, pelo menos até que a gravidez esteja suficientemente avançada para que adquira o suporte orgulhoso da fecundidade visível. E há uma crescente falta de jeito físico, algo ocorreu com seu senso de equilíbrio!

Esta é uma lista mínima. Toda vez que jogo este jogo com outras orientadoras espirituais ou com seminaristas que são mães biológicas, somos capazes de adicionar algo mais a ele a partir de nossa experiência coletiva. É impressionante como muitas vezes os mesmos "sintomas" são apresentados por aqueles que vêm - seja timidamente ou agressivamente - buscando orientação espiritual.

Como é que uma mulher sabe que está grávida de uma criança? Como você sabe se está grávida/o espiritualmente? Quando talvez em um nível muito modesto - o anjo chegou a você a partir das páginas da Escritura, na liturgia, na consciência de um estudo ou a inconsciência dos sonhos? Quando o anjo veio a você em um lampejo de consciência, muitas vezes em um ambiente altamente mundano - escritório, supermercado, seu carro na estrada e disse: "Salve, ó cheia/o de graça, tenho um negócio para você! Prepare-se para ter sua vida virada de cabeça para baixo".

Em ambos os casos, o tempo dirá. Na gravidez física, os primeiros sinais podem ser enganosos, principalmente para as inexperientes. Décadas atrás, durante dois meses, eu atribuía sentimentos misteriosos e alterados à alta altitude da Cidade do México e achava que me "ajustaria". O tempo mostrou algo diferente! Da mesma forma, nos estágios mais avançados da gravidez, a primeira vibração de uma nova vida pode ser descartada como uma ilusão, um truque da imaginação. Simplesmente não parece mexer o suficiente. Do mesmo modo, as agitações iniciais do Espírito dentro de nós podem ser pequenas e aconchegantes, facilmente descartadas porque não aparecem como algo avassalador.

Embora os sintomas de mal-estar espiritual e desequilíbrio despertem cuidadosa atenção, nem todo mundo está "grávido", nem todos são candidatos à orientação espiritual, pelo menos não em todas as fases da vida. Há aqueles que são religiosamente observantes e estão satisfeitos com sua vida espiritual como parte de uma comunidade eclesial. Não ocorreria a estes o desejo de entrar na intensa relação um-a-um da orientação espiritual tradicional, nem mesmo de tornarem-se parte de um grupo de "amigos espirituais". Isto talvez seja uma questão de temperamento, bem como de geração e experiência de vida. Depois, há aqueles cuja espiritualidade está dirigida para fora: Eles encontram Deus no serviço, na ação, na superação. Os ritmos espirituais são como ritmos corporais: a respiração exige tanto inspiração quanto expiração, recolher e desapegar-se. Frequentemente, mas nem sempre, aqueles que estão se voltando para fora - exalando, por assim dizer - não estão no momento certo para a orientação espiritual. Mais tarde, talvez, mas não agora. 

Mas há aqueles que sentem que algo está acontecendo com eles e dentro deles. Seus gostos estão mudando e seu equilíbrio mudou. Às vezes, vêm arrastados por uma crise: uma experiência de conversão, uma perda trágica, um período de grande dor, uma consciência nítida de estar em uma situação limite. À medida que se aproximam da meia-idade, especialmente as mulheres podem sentir- se impelidas a explorar sua espiritualidade quando descobrem sua nova e inesperada competente voz. Homens e mulheres de todas as idades e experiências de vida podem sentir um chamado, não necessariamente uma vocação ao ministério ordenado, mas simplesmente a consciência de que Deus espera que eles façam algo com suas vidas. O quê? As vezes, eles simplesmente experimentam um mal-estar espiritual penetrante e indefinível, que não tem nada a ver com patologia, mas gera dores e coceiras que os levam a pedir ajuda. Às vezes, vêm cheios de surpresa e alegria: depois de anos, talvez décadas, de fiel observância, experimentaram uma súbita consciência da presença e da graça de Deus. Sentem-se fecundos, alegres e esperançosos, mas não sabem o que fazer com isso.

Como um parteiro espiritual, a tarefa do orientador é prestar atenção, ouvir o que não está sendo dito - ou ao que está sendo dito, mas minimizado. Aqueles que procuram um orientador espiritual, pela primeira vez são quase invariavelmente apologéticos e rápidos para minimizar a sua experiência de anunciação, pelo menos até que estejam convencidos de sua validade; por isso, nossas conversas muitas vezes começam com um aviso: "Não sei realmente porque estou aqui. Não deveria estar tomando seu tempo. Mas..." Falar de Deus é difícil, e a muitos dos que anseiam por orientação espiritual falta o vocabulário para descrever seus sintomas e (infelizmente!) imaginação para vislumbrar os frutos de seus partos. Só sabem que estão experimentando mudanças internas, às vezes de forma alarmantemente alegre e, às vezes profundamente perturbadora. Distúrbios, desequilíbrios e náuseas espirituais não são mais agradáveis do que os fenômenos físicos análogos, mesmo quando são sinais de vida e de fecundidade. 

Na dúvida, sempre assumo que Deus está realmente trabalhando. Isto não pode ser dito muito frequentemente: em primeiro lugar, devemos levar cada pessoa a sério e valorizá-la como filha de Deus. Assim como o bom anfitrião observa a advertência de São Bento de que cada hóspede deve ser recebido como o próprio Cristo, a boa parteira da alma assume que uma nova vida está germinando na pessoa que a procurou.

Após o longo tempo de espera, vem o início do trabalho. Como a conversão, isso pode ocorrer de forma súbita ou lenta e gradual. Pode haver alguns alarmes falsos. Mas, rápida ou gradual, hesitante ou definitiva, quando finalmente acontece, há uma sensação do inevitável. Não há como voltar atrás, não há retorno para seu estado de origem. Isso pode ser simultaneamente assustador (o conteúdo está fora de nosso controle) e jubiloso, algo está finalmente acontecendo.


A primeira etapa: presença, paciência, e espera

Em seguida, vem o trabalho em si. A terminologia é apropriada. Parir é trabalho difícil, focado, intenso. O trabalho de parto é um momento de concentração, maior consciência e atenção. Mas não é indiferenciado; existem distintos estágios e cada um deve ser compreendido e respeitado.

O primeiro estágio é um tempo de espera pelo momento de prontidão. Este é um tempo de contrações rítmicas, que crescem em intensidade dolorosa. Entusiastas do parto natural desaprovam designá-las como dores de parto, preferindo o termo mais neutro "contração". Mas parir, física ou espiritualmente, não é um processo totalmente alegre. Seja esta fase curta ou longa, é um tempo de espera, de relaxar e respirar lentamente. Acima de tudo, é um momento de receptividade e um tempo de exercitar a paciência (especialmente por parte da parteira). Isso pode ir contra a corrente vigente em nossa sociedade impaciente e orientada a resultados, mas fazer esforço neste momento é contraproducente. Analogamente, enquanto os estágios iniciais da relação de orientação são, obviamente, um tempo de contar histórias, comparável ao cuidado tomado pela parteira ao ler um histórico médico, grande parte do trabalho do orientador nesta fase é também devotado a explorar lentamente as profundezas da história ouvida. É também um tempo para explorar maneiras de orar, de uma forma gentil e sem pressa. A pessoa que se sente presa às palavras impressas da liturgia pode ser incentivada a rezar com a Escritura usando a imaginação, enquanto aquela que simultaneamente deseja e teme a solidão pode experimentar fazer um retiro de fim de semana em uma casa religiosa.

Orientação espiritual não é um ministério orientado a tratar de crise, mesmo que o impulso inicial ao procurar um orientador possa surgir a partir de um sentimento de necessidade pessoal urgente. A parteira do espírito não é uma especialista a ser chamada em momentos dramáticos, seja em uma crise causada por patologia ou no momento final, emocionante, do nascimento. Como uma parteira, ela trabalha com a pessoa inteira e está presente em todo o processo. Ela "tem tempo", ao contrário do médico atado rigorosamente à sua agenda, que está preocupado com detalhes, reclamações e patologia. Ou, em outro assunto, ao contrário do clérigo paroquial firmemente agendado, que está preocupado com as atividades pastorais, administração e liturgia. Em vez disso, ela oferece apoio através de cada estágio e espera com a parturiente quando "nada está acontecendo." Claro, não há momentos em que nada está acontecendo. O crescimento espiritual pode ser gradual e escondido; o orientador-parteiro pode discernir ou pelo menos crer que algo está realmente "acontecendo".

Como povo, não nos sentimos confortáveis com a espera. Vemo-la como tempo perdido e tentamos evitá-la, ou pelo menos preencher o tempo com ocupação trivial. Valorizamos a ação por ela mesma. Mesmo na aposentadoria, as pessoas esperam estar ativas e se vangloriam de estarem "mais ocupadas do que nunca". E difícil confiar no lento trabalho de Deus. Assim, o modelo da gravidez e do parto é útil. A engenharia genética criou a fertilização in vitro, a gravidez de aluguel e façanhas surpreendentes com a fecundidade das vacas leiteiras, mas (pelo menos até agora!) não conseguiu acelerar o processo de gestação. Há momentos em que a espera é inevitável, ordenadora e fecunda.

Juntamente com a nossa alta valorização da própria atividade, acreditamos que podemos fazer as coisas melhor por nossas ações. Tudo pode ser corrigido; se não estiver quebrado, pode ser melhorado. Basta pensar apenas em alguns de nossos ídolos atuais: farmacologia, tecnologia médica, psicoterapia, e sistemas políticos e econômicos da direita e da esquerda. Contudo, grande parte do trabalho da orientação espiritual é ficar na companhia daqueles que estão à espera, do que não pode ser corrigido, reparado ou acertado, e o orientador espiritual faz bem ao emular a contenção das parteiras. A parteira compreende o processo do parto. Pelo menos, nos velhos tempos, ela também o tinha experimentado. Ela sabe quando pode ajudar e interpretar e quando deve apenas estar presente. Ela intervém apenas quando necessário e útil, nunca por uma questão de "fazer alguma coisa".

Nos orientadores espirituais como em outros, o impulso de "ajudar" as pessoas morre com muita dificuldade. Mesmo quando o orientador pensa que já está purificado de tal ingenuidade, o impulso o arrasta de volta, muitas vezes de maneiras cada vez mais sutis. Isto é especialmente verdade quando a pessoa está realmente aflita e quando é óbvio que circunstâncias exteriores remediáveis estão afetando sua vida espiritual. As pessoas vêm até nós com o que parece ser fardos esmagadores: doença crônica, tanto física como emocional, a pobreza, as cicatrizes de abuso físico. Para o orientador, tais condições podem parecer como adversas e que devem ser eliminadas, ou pelo menos amenizadas, e é uma dura lição reconhecer que a vida em Cristo não é, necessariamente, uma vida sem dor.

Uma mulher que oriento, Jennie, está isolada, com doença crônica, experimentando um enfraquecimento cada vez maior e vivendo no limite da pobreza. Não muito tempo atrás quando nos sentamos juntas, eu me peguei pensando: "Se esta mulher tivesse um pouco mais de dinheiro, tudo mudaria. Claro, ela ainda estaria doente e solitária, mas..." Eu me surpreendi fazendo planos para "ajudá-la", para apontar maneiras de "consertar tudo". Finalmente, deixei escapar: "Quero eliminar a sua dor. Quero ser capaz de fazer tudo isso sumir". Jennie olhou para mim com paciência infinita, acariciou minha mão e disse: "Querida, basta saber que você está comigo e que me ama. Não se preocupe com isso". Ela sabia o que eu tinha esquecido: que às vezes esperamos, porque não há mais nada a ser feito além disso. O maior presente que eu poderia dar a ela não era me fazer de assistente social ou psicoterapeuta, mas acalmar-me e esperar com ela. Estar com ela. Ao fazer isso, tive que reconhecer o meu desconforto com minha própria impotência.

Do mesmo modo que não nos sentimos confortáveis com a espera, nós encolhemos de passividade por sermos o objeto em vez do iniciador da ação. A menor das doenças pode revelar a fragilidade de nosso controle, uma vez que nos transforma em pacientes; os que são destinatários das ações dos outros, sejam elas curativas ou prejudiciais. Quando somos pacientes, temos que abandonar o controle ou nos privarmos dele, uma condição bastante ofensiva. Mesmo os teólogos ascéticos preferiam falar sobre isso que Podemos brincar um pouco de desapego experimentá-lo. Podemos Eckhartiano, deixando de lado os hábitos ou modos de ser dos quais é fácil abrir mão, mas rezando para sermos poupados da experiência cataclísmica que rasga em pedaços o nosso tecido cuidadosamente costurado (ou remendado!). Porém, o modelo de santa espera, de passividade, está diante de nós na vida de Cristo.

Em seu sábio livro, "A estatura da espera", W. H. Vanstone aponta a mudança radical de Jesus da ação à paixão, observando que o termo "paixão" não se refere tanto ao seu sofrimento como ao seu ser "levado a", tornando-se o objeto ao invés do sujeito da ação. No evangelho de Marcos, depois de Judas "entregá-lo" (Vanstone prefere esta em vez da tradução mais usual, "traí-lo"), Jesus fica inativo, fala muito pouco e, em seguida, torna-se ineficaz. No evangelho de João, com a chegada da noite, torna-se inativo. Nenhum trabalho pode ser feito à noite; é o momento da espera.

 

No Evangelho de João, no momento em que Jesus é preso no jardim, Ele é preso e então... [Sua) liberdade irrestrita de repente transforma-se em escravidão. De Sua intangibilidade passa à prisão literal e física de mãos humanas sobre Ele. No momento em que Jesus é entregue, passa, de acordo com João, da liberdade irrestrita ao constrangimento total.[5]

 

Em nossa cultura faustiana[6], que valoriza o fazer sobre o ser, é esclarecedor ler o Evangelho de Marcos ou o de João com os olhos de Vanstone. Esperar faz parte da condição humana. Mas, em vez de ser um desperdício lamentável e inevitável, é uma condição para o crescimento humano, potencialmente santo e até mesmo cristão. Como Vanstone nos lembra: "A espera pode ser a mais intensa e comovente de todas as experiências humanas: a experiência que, acima de todas as outras, nos despoja da afetação e do autoengano e nos revela a realidade de nossas necessidades, nossos valores e a nós mesmos"[7]. Como parteiras do espírito, faremos uma grande coisa ao esperar e encorajar os outros a também esperar, nem sempre confortavelmente e, por vezes, com muita dor.

Aquelas pessoas que são agraciadas com perspicácia são capazes de vislumbrar sua impotência essencial, embora exteriormente sejam pessoas empreendedoras que contribuem com sua diligência para o bem-estar comum. (Teresa de Ávila é um excelente exemplo). Estas são as pessoas que muitas vezes vem a nós para a orientação espiritual, perplexas com a percepção do vazio de suas vidas ocupadas e assustadas com a consciência de sua impotência essencial. Elas querem dar o máximo de si mesmas na vida, mesmo quando veem que isso só está fazendo piorar a dor e atrasar a fruição. Como parteiras, convidamo-las a abraçar a passividade da espera, para respirar levemente e tornarem-se receptivas.

Isto não é tão fácil quanto parece. Sei que Reconheço quando me encontro com Charles, um pastor bem-sucedido que vive à beira do esgotamento. O vigor espiritual e financeiro de sua paróquia causa inveja a seus colegas, seus paroquianos voltam-se para ele com amor e respeito, beirando a veneração, e seu bispo pensa nele em primeiro lugar quando procura um presidente para a comissão diocesana. No entanto, Charles acha sua vida cinzenta e vazia. Ele se pergunta porque está trabalhando tanto, já que nada parece ter importância. Ele se pergunta porque continua a orar, pois isso também já não parece importar. Nós dois sabemos que ele está em uma posição de espera, mas a espera é difícil: Charles não é um homem para respirar lentamente e parar de se esforçar! Contudo, sua fé é profunda e sua confiança suficiente. Ele está disposto a aguentar. Minha única tarefa neste momento é esperar com ele.

Outros que vêm estão exterior e espiritualmente em uma situação de espera. O idoso frágil, o fisicamente imóvel, e o doente crônico são exemplos óbvios. A presença é um dos nossos maiores presentes para os moribundos, cujos entes queridos e cuidadores frequentemente os desencorajam a falar sobre suas experiências. O orientador espiritual pode esperar e ouvir, aceitar o fato da morte com a pessoa que está morrendo. Aguardamos também com os enlutados, sabendo que a dor não pode ser apressada, mas deve ser vivida. Nós sentamos junto a vítimas de todos os tipos, incluindo as sobreviventes de violência, abuso e negligência.

Os orientadores espirituais também exercem um ministério de presença junto aos desempregados, cujo sofrimento é reconhecido em termos econômicos ou sociais, mas raramente como uma crise espiritual. Da mesma forma, as pessoas que se aposentaram, embora sua aposentadoria possa ter sido voluntária e bem-vinda, encontram-se em uma posição passiva, "à mercê de", mesmo quando realizam atividades prazerosas. Em vez de propor mais atividades para mascarar a realidade, o orientador espiritual pode sugerir uma aceitação da espera e convidar à exploração de seu santo vazio. Em ambientes menos tradicionais, nosso ministério junto aos sem-teto e aos presos também é um ministério de espera paciente e atenciosa.

Percebo que esses parágrafos podem soar como uma receita de negligência benigna junto àqueles que, materialmente ou fisicamente, estão "entregues" e encontram-se dependentes das ações de outros. Nada poderia estar mais longe da verdade. Os orientadores espirituais não são assistentes sociais, nem médicos ou planejadores de comunidades. Não podemos e não devemos tentar substituir os profissionais, programas e agências que trabalham para aliviar o sofrimento e promover a integridade individual e comunitária. Mas podemos oferecer o que está, Inevitavelmente, ausente ao ativismo melhor intencionado: uma disposição para esperar com os outros em face de sua impotência, "sentar-se com, mesmo em meio a estas pedras" [8].


A presença mútua

Em sua presença atenta, a parteira não é autoritária, mas tem grande autoridade. Ela tem a habilidade, o conhecimento e a perspectiva que a parturiente não pode ter, mesmo porque está fora do processo. É capaz de realizar um desprendimento amoroso e, ao mesmo tempo, sente-se solidária com a parturiente. A parteira do espírito, também, precisa experimentar essa solidariedade. Em seu livro perspicaz sobre as mulheres e a orientação espiritual, Kathleen Fischer observa que o mito do especialista é mais prejudicial para as mulheres do que para os homens, uma vez que as mulheres têm sido condicionadas a confiar na autoridade. Por isso, ela defende a desmistificação do processo de orientação espiritual e adverte especialmente contra uma padronização desta relação baseada em um modelo científico, com ênfase na distância e objetividade, que não são adequadas para a cura e o crescimento pessoal [9]. Em outras palavras, mesmo a parteira espiritual altamente qualificada mantém a abertura e o envolvimento emocional do amador. O desapego amoroso da parteira espiritual não é sinônimo de distância. Enquanto a autoridade da parteira é um apoio bem-vindo ao parto, ela está comprometida e emocionalmente envolvida, mesmo em seu desapego. Isto não pode ser dito muitas vezes, mas ela não tem medo de ser tocada.

Com a perspectiva mais clara da parteira que mantêm-se fora do processo, o orientador espiritual é capaz de oferecer interpretações para o/a parturiente. Eu digo "oferecer" em vez de "impor", pois o orientador-parteiro nunca pode ver o quadro inteiro. Talvez o orientando não queira ou seja incapaz de divulgar uma parte essencial da história, ou a compreensão do orientador seja oferecida prematuramente. Este é um momento de humildade e paciência por parte do orientador, que pode temer que uma abordagem experimental careça de força. Então, as duas pessoas podem também estar crescendo desconfortavelmente com a incerteza da espera e anseiem por clareza, mesmo que seja prematura e equivocada. Para a maioria de nós, incertezas são lembranças assustadoras de nossa própria impotência. Nomear, rotular, classificar nos dá a ilusão de controle, mesmo que o resultado final alcançado seja falso.

Em todo caso, é importante deixar o orientando livre para aceitar ou rejeitar as nossas intuições. Se estivermos certos, errados, ou apressados, também é reconfortante lembrar que não podemos fazer muito mal, pois as pessoas raramente ouvem o que não estão prontas para ouvir. No mínimo, podemos ter plantado uma semente. Como orientadoras-parteiras, devemos estar dispostas a esperar para que a semente germine e cresça até a maturidade, talvez muito tempo depois de nossa relação com a pessoa orientada ter cessado. 

Enquanto deixamos o orientando aceitar ou rejeitar nossas interpretações, podemos ajudá-lo simplesmente proferindo palavras, pois há verdade no ditado que diz que os demônios são destruídos quando são nomeados. Ao mesmo tempo, podemos ajudar a libertar o orientando da tirania dos "deveres" e "obrigações". Mesmo que o orientador seja sábio o suficiente para evitar a prescrição de comportamento, o orientando pode estar autoaprisionado. Então ouvimos: "Eu não deveria me sentir assim, mas..." ou "Eu não deveria dizer isso, mas..." O lugar da espera não é necessariamente um lugar de falta de liberdade servil nem de negação repressiva. O orientador pode delicadamente ou rapidamente limpar o ar. Eu me pego dizendo: "Mas você se sente desta forma", ou "Quem vai se ofender se você vai em frente e diz isto? Deus já sabe disso e eu provavelmente não vou cair de minha cadeira". 

Enquanto esperamos juntos na orientação espiritual, não estamos completamente certos do que estamos esperando. Eckhart nos apresenta a imagem de um Deus tão cheio de amor que ele repetidamente nasce no espaço vazio e acolhedor da alma. Com a tristeza e resignação de nosso próprio tempo, o filósofo Jacob Needleman, autor de diversos livros sobre a busca espiritual, soa como um Eckhart pessimista quando observa que a alma é abortada mil vezes por dia [10]. Mas se nós nos alegramos com Eckhart em sua visão de fecundidade abundante ou se nos lamentamos com Needleman da promessa perdida e vida desperdiçada, é claro que, para orientadores espirituais, mesmo o vazio aparente não é estéril Nos tempos de espera, é suficiente se não fizermos nada mais do que sentar com o parturiente, oferecendo uma mão a ser segurada.

A mão reconfortante da parteira é bem-vinda, pois há um medo predominante nas parturientes que elas serão deixadas sozinhas. Mais precisamente, o abandono é o medo de todos nós, embora com o passar da infância aprendemos a controlá-lo, ou pelo menos escondê-lo. À medida que escuto as histórias de meus orientandos, parece-me que todos nos sentimos abandonados e que gastamos grande energia (e muitas vezes equivocadamente) tentando lidar com nossa dor e raiva pela deserção de nossos pais. Deslocados, pois não tocamos, em uma profundidade suficiente, as raízes do nosso medo: de que seremos abandonados por Deus.

Assim, George está relutante em explorar sua relação com um Deus amoroso ou negligente, insistindo que Deus não é o problema, mas seu pai frio e desertor. Seu pai, sem dúvida, foi frio e desertor 45 anos atrás, mas agora ele é um ancião e está semi-inválido. Enquanto George tem cicatrizes e feridas de cicatrização lenta -- quem não tem? Ele é um homem com dons consideráveis. Ele resiste à minha sugestão de procurar psicoterapia para obter ajudar no autoconhecimento sobre e no seu relacionamento com seu pal, que lhe serve como um útil propósito: tanto como uma tela quanto como um desvio para impedir que George enfrente sou medo mais profundo. O Deus que ele criou e mantém em uma prateleira é benéfico, ainda que bastante ineficaz, e não tão poderoso ou tão absorvente, quanto o papai. Talvez um dia George vá se sentir forte o bastante para colocar o pai de lado, se não perdoá-lo, e olhar diretamente para a sua relação com um Deus de amor e terror. Talvez com o salmista, ele poderá, então, orar. "Até quando, Senhor, me esquecerás para sempre? Até quando me ocultarás o teu rosto? Até quando na minha alma experimentarei aflições? Tristeza no coração a toda hora?" [11] A grande barreira, então, será quebrada e uma parte congelada dentro de George vai começar a derreter. Não tenho certeza, contudo, que isso possa acontecer a menos que ele esteja disposto a procurar ajuda profissional para curar as feridas que carrega dentro de si. No momento, ele ainda não está pronto para abandoná-las.

Nem todos os orientandos se apresentam em termos tão severos quanto George, mas muitos compartilham sua relutância em articular o seu sentimento de abandono por parte de Deus. Aqui, como em outras situações, eles são rápidos em culpar a si mesmos e reprimir qualquer sentimento de raiva. Se eles se sentem amputados, devem ter feito alguma coisa para merecer isso. O orientador pode ajudar aqui, lembrando-os de que a sua experiência não é única, não de uma forma que vise a minimizar a sua dor, mas sim para diminuir o seu isolamento.


O período de transição

A primeira etapa do trabalho termina em um período de transição, que pode ser assustador, mesmo terrível, se é inesperado. Mesmo quando a transição é compreendida, tem poder surpreendente. A parturiente está tomada por uma força tremenda e sente que, de alguma forma perdeu o controle. Tudo de repente é muito grande e muito poderoso. Todas as semanas de preparação cuidadosa e instrução parecem inadequadas e triviais. A parturiente pensava que estava preparada e "sabia exatamente o que fazer", e agora isto não funciona! Ela pode até se sentir traída: ninguém lhe disse a verdade ou talvez ninguém tenha previamente se confrontado e entendido a verdade.

No processo do parto, o período obscuro, aparentemente caótico, de transição é o momento de maior desconforto e, pelo menos do ponto de vista da parturiente, de maior necessidade da presença solidária da parteira. Em nossa vida espiritual, também, é um momento crucial. Os antigos métodos já não servem. Os confortáveis ritmos de adoração e oração solitária parecem vazios e estéreis. Foi-se a imagem de um Deus amoroso, um Deus imanente, que pergunta:

 

Acaso uma mulher esquece o seu neném, ou o amor ao filho de suas entranhas? Mesmo que alguma se esqueça, eu de ti jamais me esquecereil Vê que escrevi teu nome na palma de minha mão... (Is 49,15-16).


Esta visão pode ter sido suplantada pela ameaçadora imagem de um Deus raivoso, punitivo:


Garante-se alguém diante de sua ira? E, no ardor de sua raiva, quem pode resistir? Há um fogo no furor que ele fulmina, diante dele as rochas esboroam (Na 1,6).


Ainda mais provável é a percepção da ausência ou indiferença de Deus, um Deus que escolhe ficar afastado:


Senhor, por que estás tão longe e te escondes no tempo da angústia? (Sl 9B/10).


O que se aprendeu e foi diligentemente praticado já não ajuda. Nada ocorre da maneira que deveria, ou pelo menos da maneira que esperamos que ocorra. Os momentos solitários de transição podem ser terríveis, porque são tempos de desabrigo espiritual. Embora não seja uma parteira, nem um orientador espiritual (talvez um pouco de ambos), o poeta Rilke oferece uma comovente descrição deste desconfortável, mesmo que frutífero, estágio de transição quando fala de


instantes em que algo de novo penetrou em nós, algo desconhecido; nossos sentimentos se calam em um acanhamento tímido, tudo em nós recua, surge uma quietude, e o novo, que ninguém conhece, é encontrado bem ali no meio, em silêncio. Acredito que quase todas as nossas tristezas são momentos de tensão, que sentimos como uma paralisia porque não ouvimos ecoar a vida dos nossos sentimentos que se tornaram estranhos para nós. Isso porque estamos sozinhos com o estranho que entrou em nossa casa, porque tudo o que era confiável e habitual nos foi retirado por um instante, porque estamos no meio de uma transição, em um ponto no qual não podemos permanecer [12].


Não surpreendentemente, transições são momentos em que as pessoas cuja observância religiosa tem sido até então morna e superficial são impelidas a buscar orientação espiritual. Outras, que estão bem estabelecidas em uma relação de orientação espiritual, podem decidir deixá-la durante um período de transição, porque acham que de alguma forma "não está funcionando". Ou elas podem sentir que estão no limiar de algo novo e estão relutantes em dar o próximo passo. A mulher descrita no capitulo dois, que deixou a orientação espiritual, porque era muito exigente, foi extremamente autoconsciente e sincera. Mais comumente, a resistência à mudança é inconsciente e desarticulada. Em todos os casos, contudo, é tarefa do orientador discernir onde o orientando está, apesar de sinais confusos e conflitantes, e estar consciente tanto da dor quanto da promessa da transição.

As transições podem ser grandes ou pequenas, bem-vindas ou indesejáveis. As vezes, podem ser antecipadas, mas muitas vezes vêm como uma surpresa. As mais óbvias envolvem a perda dolorosa causada pela morte de um ente querido, doença grave, divórcio ou por outros relacionamentos desfeitos e pelo desemprego. A aposentadoria ou outras mudanças drásticas na forma ou local de moradia também são momentos óbvios de transição. Às vezes, as transições são desencadeadas por mudanças positivas e de boas- vindas na vida do orientando: o início da sobriedade, aceitação da própria orientação sexual após um longo período de luta, o casamento, o nascimento de uma criança, a resolução de questões profissionais. Em vez do sereno velejar esperado, o orientando experimenta um caos espiritual; tudo parece arrebentar-se justamente no momento em que ele "experimenta tudo isso".

Mesmo quando não há eventos externos desencadeantes, uma aparente perda de fé pode ser sinal de um tempo de transição. Esta é uma experiência comum aos seminaristas, que percebem a sua fé abalada exatamente quando esperam que seja mais firme, e os estudos acadêmicos não aliviam a dor, à medida que são forçados a olhar criticamente para a Escritura e a história. Da mesma forma, as mulheres podem perceber-se à deriva, com todo o sentido de ordem e significado retirado delas, quando de repente (ou gradualmente) se veem alijadas pela linguagem masculina da liturgia. Em um ensaio chamado "Take Back the Night", Mary E. Giles descreve esse momento doloroso de liminaridade:


Em inúmeras situações, hoje as mulheres estão sofrendo a perda dos valores tradicionais, dos sistemas e das relações com a angústia de si mesmas e de seus entes queridos e para o desespero das pessoas em instituições afetadas pela experiência delas. Quando a perda é radical, ou seja, quando afeta nosso ser total, não é planejada nem desejada, nos reduz ao desamparo emocional, intelectual e fisico, deixa-nos suspensas entre um passado escuro e um futuro sombrio tal que todo o nosso ser é envolvido pela perda, nesse momento estamos passando por nossa noite escura. Quando em angústia clamamos "Deus, meu Deus", quando nos sentimos vazias de sentido, quando não sabemos quem é esse Deus a que nos apegamos em silêncio, então estamos passando por nossa noite escura. Sem qualquer toque de aventura exótica, apenas tateando e agarrando[13].


Em ambos os casos, os fiéis se encontram em uma situação em que as velhas receitas já não servem e da qual não podemos recuar. Eles podem ser tentados a continuar como se nada tivesse acontecido, especialmente se as circunstâncias estimulam a conformidade. A maioria dos seminaristas, por exemplo, sabiamente abstém-se de discutir o seu difícil e doloroso estado, com os órgãos de avaliação que os aprovam à ordenação. Na segurança da relação de orientação espiritual, no entanto, eles podem passar por essa fase com franqueza e até mesmo chegar a reconhecer a necessidade dela.

O orientador pode ajudar nomeando a transição, mostrando o que é um período de movimento de um estágio para outro, um tempo de mudança e transformação. Com Rilke, podemos indicar que este é um momento para permanecermos "tranquilos, pacientes e receptivos"[14]. Mesmo o orientando teologicamente sofisticado pode ser ajudado pela lembrança de que nossas imagens de Dous são apenas isso -- imagens -- e, à medida que podemos ver suas limitações, as superamos. A dificuldade surge quando nos esquecemos de que elas são apenas imagens e pensamos, em vez disso, ter colocado Deus de lado. Os espiritualmente estagnados são capazes de viver em um estado de negação, mas o buscador de Deus pode entrar em pânico: "Talvez eu tenha ido longe demais! Eu deveria ter ficado satisfeito com o Deus que eu tinha!" No melhor caso, este é um lugar inquietante para se estar. A terra já não parece firme sob nossos pés e, como um dos meus orientandos pé no chão diz: "Tudo está em jogo".

Como uma parteira fiel, o orientador pode ver padrões e forma na ausência de forma aparente. Mais importante, sabe que o tempo de transição tem um começo e um fim, e que o orientando val emergir em um novo nível de clareza. Este é um momento de compartilhar suas intuições com o orientando, que pode ser cético, mas deve ter confiança suficiente para saber que estas não são palavras de consolação barata. Mesmo orientandos que não experimentaram o parto são capazes de compreender o imaginário da transição como uma etapa difícil e confusa conduzindo a uma nova vida. Permanece difícil, mas percebem um sentido em sua aparente falta de sentido. O orientador-parteiro pode ajudá-los a se soltarem, a deixar de lutar e a observar com atenção o início da próxima fase. A transição é um tempo de surpresas; o orientador pode ajudar, apontando para sinais em lugares inesperados.

Uma das surpresas desagradáveis da transição é o sentimento de perda que inevitavelmente acompanha a autotranscendência e um novo crescimento. Assim, os novos pais são muitas vezes surpreendidos com as perdas sofridas com o nascimento de uma criança muito querida: a espontaneidade, a privacidade, autodeterminação, até mesmo a perda do um sentido de identidade. Para um número crescente de pessoas, agora são apenas pais de alguém. Aceitar o crescimento e a mudança em si mesmo é também uma espécie de partida, um deixar para trás o seguro e o conhecido. As vezes, percebemos a pungência de nossa perda apenas após o fato, mas não há caminho de retorno.

Um dos tesouros no meu escritório é a pele intacta de uma cobra preta da Virgínia, largada como parte do processo de crescimento. Para crescer, certamente para sobreviver, a cobra teve que deixar para trás uma parte de si mesma. Não tenho qualquer ideia se a perda foi dolorosa ou um alivio, mas a minha imaginação me diz que foi um pouco de cada. Orientandos, também, largam peles e identidades se perseveram em meio à dor das transições, abandonando a segurança de imagens e hábitos ultrapassados para abraçar o novo. Isto é especialmente mordaz, pois muitas vezes não há "nada de errado" com a velha identidade ou com a pele trocada; simplesmente não são mais úteis.


A segunda etapa: o trabalho ativo

A segunda etapa começa no meio do caos da transição, com a consciência instintiva da necessidade de empurrar com força a cada contração. Este é o momento de ativo trabalho em contraste com o trabalho de espera. Toda a atenção da parturiente está concentrada, focada e centrada, o que traz consigo emoção, alivio e grande energia. (Isso pode, no entanto, não ser aparente para o observador casual, que espera ver sinais de dor e exaustão).

Para o parteiro espiritual, esta segunda fase é a época da colheita. A relação com o orientando está bem estabelecida, com carinho e confiança de ambos os lados. O longo período de espera passou e a desolação da transição já foi experimentada.

O orientador pode sentir que sua presença é menos importante agora, pois, mais do que nunca, o orientando está conduzindo o processo. Este é um bom momento para lembrar mais uma vez o que a orientação espiritual realmente é. Não é impor nossa vontade sobre o outro, mas respeitosamente auxiliar, à medida que o caminho é discernido: por que caminho vou? Quais são os sinais? Que curva devo fazer? Qual é a minha direção?

Nesta fase e é importante lembrar que isto não é o final, que todo o processo vai recomeçar de novo e de novo a orientação é clara, o nível de energia é alto, e os próximos passos estão aparentes. Por enquanto, a orientanda encontrou a regra e disciplina que é certa para ela. No momento presente, pelo menos, ela sabe quem é, com uma nova consciência de sua identidade em Cristo. Nesta fase do trabalho árduo, mas focado, a orientanda vive naquela identidade e vive as intuições adquiridas nas fases anteriores. Fica sempre claro para mim quando trabalho com seminaristas que orientação espiritual está relacionada com preocupação com a vocação, pois os caminhos exteriores e interiores estão inextricavelmente emaranhados. Menos obviamente, todas as pessoas que nos procuram estão lutando com sua vocação, independentemente de suas ocupações diárias. Assim, em certo sentido, a orientação espiritual pode ser vista como semelhante à orientação profissional; espero que tenha pouca similaridade com o sufoco que muitos de nós sofremos durante o ensino médio!

Esta etapa do trabalho não ocorre sem sua própria dor. A medida que o trabalho interno avança, a orientanda experimenta uma infamiliaridade cada vez maior tanto de si mesma quanto de toda a criação. O que pode ter começado como uma viagem de autodescoberta torna-se uma jornada para o interior da grande rede de conexão. A compaixão se aprofunda à medida a orientanda ultrapassa a autoabsorção, e a compaixão nunca é um dom sem valor ou fácil. O que foi visto não pode ficar invisível: o que é conhecido não pode ser desconhecido. Dar à luz não ocorre sem o seu lado negro: as mudanças inevitáveis podem ser maiores do que as esperadas pela orientanda.

Como acontece frequentemente, aqui a tarefa do orientador é incentivar, literalmente, torcer. Nesta etapa, sinto-me como uma treinadora: você está no caminho certo, não pare agora, continue indo, confie em si mesma! Não se esqueça de observar os sinais! E não se surpreenda com as surpresas! Este é o momento em que a amizade se torna um componente mais forte no relacionamento. Esteve ali o tempo todo, mas agora a orientanda sabe que a orientadora a conhece desde o início: nós duas no mesmo caminho e fazendo o mesmo trabalho. As barreiras entre nós são estruturas frágeis, erigidas por conveniência, ou talvez sejam completamente ilusórias.

Não chegamos a este ponto rapidamente, mas sempre acho que é gratificante. O orientando, que pode ter começado nosso trabalho em conjunto com uma ideia exagerada de minha competência, está agora disposto a me ver na minha humanidade imperfeita e ainda me ama. Afinal, ele fez todo o trabalho!


A celebração

É impossível descrever a alegria que enche a sala com o nascimento da criança. Uma amiga parteira me diz que o júbilo de acolher uma nova vida nunca envelhece, Eu chorei e ri ao mesmo tempo à primeira visão de cada um dos meus belos filhos, embora tão pequenos, e até mesmo para o meu olho favoravelmente preconceituoso, algo ligeiramente cômico. Toda a espera e trabalho trouxe este pedaço de promessa. Há mistério e absurdo na nova vida nascente, e somente aqueles que não a contemplaram, em sua novidade e crueza, podem ficar satisfeitos com rapsódias sentimentais e românticas sobre ela. Uma pequena criatura indefesa, roxo-escuro e um tanto bizarra é o fruto de toda essa espera, dor, terror e trabalho duro. Certamente seria de se esperar algo mais bonito e útil!

Muitas vezes podemos realizar tal trabalho pesado na orientação espiritual que podemos nos esquecer de comemorar. As pessoas acham tão fácil dizer coisas negativas sobre si mesmas que é possível negligenciar todos os pequenos nascimentos, os tempos de alegria e celebração. Às vezes me pergunto o que os transeuntes devem pensar quando veem minha solene placa "Não perturbe" na porta e ouvir o riso que vem de dentro. Certamente uma sessão de orientação espiritual é uma solene, se não lúgubre, ocasião para listar falhas e revelar deficiências. Embora seja a autoabsorção que nos leva a esquecer do amor misericordioso de Deus, o doador de vida nova à alma mais cansada e ferida. Mesmo que seja intensamente séria, a orientação espiritual será uma ocasião de celebração. Eckhart estava certo quando disse: "Cuide apenas do nascimento em você e você vai encontrar toda a bondade e toda a consolação, toda alegria, todo o ser e toda verdade. Rejeite o e assim você rejeita a bondade e a bênção. O que vem a você neste nascimento traz consigo o puro ser e a bênção".

Nem todos que chegam para trabalhar conosco serão João da Cruz ou Teresa de Ávila. A maioria das pessoas que vêm até nós será formada de pessoas comuns, não candidatas à santidade. Alguns carregarão profundas feridas emocionais: todas trarão marcas em certa medida. A maioria delas não será de teólogos e podem carregar uma notável falta de autoconfiança. Mas à medida que trabalhamos juntos, elas experimentarão nova vida, quase sempre pequena, indefesa e levemente cômica, mas ao mesmo tempo misteriosa e sagrada. É tempo de alegria e celebração, mesmo quando a parteira sabe que isso é apenas o começo, o primeiro de muitos nascimentos. Mais cedo ou mais tarde, todo o processo tem de começar de novo.


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* Não publicado. Consta de parte da apostila confeccionada especialmente para o 2º módulo da disciplina "Práxis avançada da orientação espiritual", no curso de pós-graduação em Espiritualidade Cristã e Orientação Espiritual, na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE (2016).

[1] Segundo a Wikipédia, Carmina Gadelica é uma coletânea de orações, hinos, feitiços, encantamentos, bênçãos, poemas literário-folclóricos e canções, provérbios, elementos léxicos, anedotas históricas, observações de história natural, e conhecimentos diversos reunidos em regiões de língua gaélica da Escócia entre 1860 e 1909. O material foi gravado, traduzido e reformulado pelo fiscal de rendas, folclorista, antiquário e escritor Alexander Carmichael (1832-1912). Para mais informações vide: http://en.wikipedia.org/wiki/Carmina_Gadelica (N.T.).

[2] Citado em The Celtic Vision, Esther de Waal, ed. (Petersham, MA: St. Bede's, 1988), p. 111. Uma oração semelhante é registrada por Avery Brooke em Celtic Prayers. New York: Seabury, 1981. pp. 22-27.

[3] Os Apalaches são os indígenas nativos da região montanhosa dos EUA oriental, contendo os Montes Apalaches, estendendo-se desde a Pensilvânia até o Alabama (N.T.).

[4] BRENNAN, Barbara; HEILMAN, Joan Rattner. The Complete Book of Midwifery. New York: E. P. Dutton, 1977.

[5] VANSTONE, W. H. The Stature of Waiting. New York: Seabury, 1983. p. 27. Relativo a Fausto, personagem de uma das obras do escritor alemão Johann

[6] Wolfgang von Goethe (1749-1832). Considerado simbolo cultural da modernidade, Fausto é um poema de proporções épicas que relata a tragédia do Dr. Fausto, homem das ciências que, desiludido com o conhecimento de seu tempo, faz um pacto com o demônio Mefistofeles, que o enche com a energia satânica insuflador da paixão pela técnica e pelo progresso (N.T.).

[7] VANSTONE, W. H. The Stature of Waiting. New York: Seabury, 1983, p. 83.

[8] ELIOT, T. S. "Ash Wednesday," in Collected Poems. New York: Harcourt Brace and Company, 1936. p. 121.

[9] FISCHER, Kathleen. Women at the Well: Feminist Perspectives in Spiritual Direction. New York: Paulist, 1988, pp. 19-20.

[10] NEEDLEMAN, Jacob. Lost Christianity: A Journey of Rediscovery. San Francisco: Harper & Row, 1980. p. 175.

[11] Sl 13 (12), 2-3a (N.T.)

[12] RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poota. São Paulo: L&PM, 2009. p. 74.

[13] "GILES, Mary E. ed., The Feminist Mystic and Other Essays on Women and Spirituality. New York: Crossroad, 1989. pp. 61-62.

[14] RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poota. São Paulo: L&PM, 2009. p. 75.

 

 

 

 



 

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