CONHECER A SI MESMO NÃO É FÁCIL

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"Com efeito, o discernimento envolve as nossas faculdades humanas: a memória, o intelecto, a vontade, os afetos", disse Papa Francisco na audiência da quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Mais adiante ele acrescenta que na base de "crises vocacionais encontra-se... um diálogo insuficiente entre a vida religiosa e a nossa dimensão humana, cognitiva e afetiva." Eu posso afirmar que na base das crises existenciais está um diálogo insuficiente ente a vida que eu levo e a minha dimensão humana, cognitiva e afetiva. 

Imagine o seguinte: Quando você chora, é para lubrificar os olhos? ou é uma emoção que transborda? 

Por isso, podemos afirmar que existe um só corpo com várias dimensões, uma física, outras adimensionais. Eu e você não somos um monte de carne pendurada no esqueleto, amarrado com feixes nervosos (SIC). Numa carta de Paulo aos habitantes da Tessalônica, ele  anima: "Que o próprio Deus da paz vos santifique integralmente. Que todo o vosso espírito, alma e corpo sejam mantidos irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo."

Três pontos quero refletir com você, antes de prosseguir no Exercício de conhecer a si mesmo: primeiro que a Bíblia não é um livro histórico, embora contenha histórias, histórias que aconteceram na história e na geografia, a Bíblia é um livro místico, mistagógico. Segundo, que "a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo", mistagogicamente falando, acontece no presente, em todo lugar a todo momento; e vem de dentro (pois Ele está no meio de nós). Terceiro, "vos santifique integralmente -- espírito, alma, corpo --." dá uma estrutura de um corpo (místico) organizado. Daqui começa o (re)conhecimento da "minha dimensão humana, cognitiva e afetiva".

(...) Pare um pouco e vá tomar um café. Depois você volta à leitura.

A constatação de que não me conheço suficientemente a mim mesmo, e da dificuldade em querer conhecer-me como verdadeiramente sou, se essa constatação provoca conflito, pode ser bom sinal; sinal que exige e leva ao "discernimento". Perceber com clareza (características, diferenças) da minha própria estrutura -- espírito, alma, corpo --. Apreender o sentido de (conceito, condição, situação etc.) minha condição humana, tanto cognitiva quanto afetiva. Fazer julgamento (apreciar, avaliar) meus pensamentos e palavras, atos e omissões...

Voltando ao texto de Francisco, um autor de espiritualidade observava que muitas dificuldades a respeito do tema do discernimento remetem para problemas de outro tipo, que devem ser reconhecidos e explorados. Assim escreve este autor: «Cheguei à convicção de que o maior obstáculo para o verdadeiro discernimento (e para o verdadeiro crescimento na oração) não é a natureza intangível de Deus, mas a constatação de que não nos conhecemos suficientemente a nós próprios, e de que nem sequer queremos conhecer-nos como verdadeiramente somos. Quase todos nos escondemos por detrás de uma máscara, não só perante os outros, mas também quando nos olhamos ao espelho» (Th. Green, Il grano e la zizzania, Roma, 1992, 25). Todos temos a tentação de usar máscaras inclusive diante de nós mesmos. 

Escondo-me por detrás de uma máscara enquanto não me (re)conheço como realmente sou -- espírito, alma, corpo --. Mas, eu não preciso me esconder; nem jogar fora as máscaras. À medida em que vou caminhando no Caminho, que é Vida e Verdade, não jogo fora as máscaras, mas utilizo-as como interface de comunicação. O que eu comunico? O que eu quero comunicar? Para quem? Para quê?

Interface como meio de que dispõe o usuário para interagir com um programa ou sistema operacional. Assim como um computador, um tablet ou um celular não pode ser útil sem a tela (ou monitor), embora "esteja tudo lá", um ser humano não pode ser humano sem a sua máscara adequada ao meio, ao público, ao objetivo... Acontece que ao (re)conhecer a si mesmo, você pode trocar a máscara à sua conveniência. 

-- Mas, você está me falando para ser "duas caras"!, você me pergunta. 

E eu respondo: 

-- Não. Duas não. Pelo menos nove KKKK...

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