Um pequeno manual para coaching
Dentre muitas técnicas disponíveis para quem pretende atuar como coach,
a Didática Transpessoal pode ajudar não só uma pessoa mas também um
grupo de pessoas — um organismo, uma organização... um ser social—.
Ajudar a conseguir a integração e a inteireza, ou seja, a individuação,
ou, a self-actualization (self-develpment, self-realization, productiveness, autonomy...).
Para
facilitar a aplicação da Didática Transpessoal, a Dra. Vera Saldanha
sistematizou os seus principais conceitos no que ela denominou Abordagem
Integrativa Transpessoal – AIT (acreditada em tese de doutorado na UNICAMP, em 2006). Essa abordagem pode ser muito útil, em especial a
dinâmica interativa, que como o próprio nome sugere, promove a ação
comum, a comunicação entre os conteúdos recém emergidos do inconsciente
com os conteúdos nos vários estados de consciência, por meio de sete
etapas denominadas de:
- reconhecimento,
- identificação,
- desidentificação,
- transmutação,
- transformação,
- elaboração e
- integração.
Quando
em um processo terapêutico ou educacional, se utiliza recursos que
favoreçam estes sete passos, facilita-se um caminho experiencial no qual valores emergem espontaneamente no indivíduo como
decorrência do processo vivido -- caminho evolutivo.
O reconhecimento e a
identificação do estágio em que está (o indivíduo ou o grupo) é
potencialmente útil quando se elege um "para onde vou" — qual seria um
bom resultado para mim (ou para o grupo)? Considera-se o valor de um objeto qualquer (físico ou
abstrato) na medida da sua utilidade prática. A AIT ajuda a reconhecer,
identificar, estimular e integrar os aspectos pessoais no
desenvolvimento do ser num caminhar naturalmente evolutivo. Existe uma necessidade básica ou pulsão "instintóide" para o
desenvolvimento evolutivo a partir da experiência vivida. Essa mesma
pulsão exerce uma força descomunal para integrar todos os aspectos
pessoais (virtudes e não virtudes) no indivíduo durante o processo vivencial.
Considerando, então, um processo vivencial, a vivência, o dia a dia de um ser humano relativamente comum, o que podemos chamar de eixo experiencial; e que essa experiência vivida "desliza" num eixo evolucionário, que se realiza num processo gradual de transformação e infinitas transformações... sugiro, pelo menos dez orientações fundamentais que compreendem alguns conhecimentos básicos do ofício de coach — "pequeno manual".
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana.” (C.G. Jung, [carece de fontes]).
Não deixe de estudar e aprender, desenvolver, relacionar, relacionar-se; e, tal qual uma criança, surpreenda-se, admire a beleza do desconhecido que é teu presente.
O autoconhecimento é fundamental no desenvolvimento do ser humano; assim é que emergem (surgem, brotam) valores pessoais, parte da sua natureza, que o possibilitam cada um a se tornar o melhor de si mesmo.
No trabalho do autoconhecimento, seja gentil. Não lute, não brigue. Ao ser contrariado, não agrida. Pare, ouça, e… “insista, insista, insista”.
… por causa da sua insistência, e lhe dará tudo o que houver mister. E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; Porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á (Lucas 11,8-10).
Duvide sempre da própria certeza — não pare de buscar a razão que leva ao Criador. Lembre-se, por exemplo, de que “o avanço da Ciência não se dá em função do acúmulo gradativo de informações gnoseológicas, mas é um processo contraditório, marcado por revoluções do pensamento estabelecido” (Thomas Kuhn).
Crie o teu próprio manual, e revise-o sempre, critique-o periodicamente, e mude quando achar conveniente.
Ao se deparar com um outro, outra pessoa, lembre-se de que você tem dois olhos, duas orelhas, duas narinas e uma só boca... Não responda pergunta que não foi feita.
Prepare-se para acolher o novo e permita-se um “não-saber”. Perceba a lacuna, um espaço de desconhecimento diante daquele eu ainda não aprendido, e que se insere agora na sua possibilidade de vida. É o momento de acolher.
Permaneça em silêncio, não é aquele silêncio de não falar, mas sim de nem pensar, nem criticar, nem saber, nem querer saber, nem… nem. Respeite a felicidade “ignorante” o outro.
De repente, acontece um Sentir (inesperadamente, subitamente, de supetão). Sensações físicas, sentimentos, pensamentos são vivenciados. É a ressonância em você da necessidade do outro. Não existe um porque, quando, como, onde, com quem.
Aqui se trata de perceber as diferenças sutis do efeito de pensamentos em determinadas palavras. Assim se fica sensível aos efeitos. A diferenciação principal é: fortalece ou enfraquece o cliente? Tudo o que fortalece é bom. O que enfraquece — isso se percebe imediatamente — não é bom. É também: o que me fortalece e o que me enfraquece? Ou aqui neste caso, pode-se perguntar: em que medida me libera o não? E libera o cliente ou não? Essas são algumas regras fundamentais. Quando se sabe disso, pode-se encontrar o certo bem depressa, pois o certo é, primeiro, simples e em segundo, quando está certo, não existe outra escolha. Apenas uma coisa é importante. Todo o resto é totalmente errado (Hellinger, 2005, p. 195).
A busca do certo e do errado é um vício antigo da humanidade. "Comer do fruto da árvore que está no meio do Jardim...". Desde então, o Sistema Nervoso Central – SNC, se mobiliza para encontrar as respostas que não existem, e joga uma avalanche de tentativas de discernimento crítico, a análise, a reflexão articulada em diferentes aspectos em relação a uma possível aplicabilidade — o SNC é pragmático! –. Você retoma a individualidade e razona. Lembre-se que você também ama, sofre, pensa, sofre…“A convivência do sofrimento ensina a humildade, e lembra na lição de cada dia que o homem, nem ao menos uma sombra senão apenas “o sonho de uma sombra”, como advertiu Píndaro ao hierônica dos Píticos, se contente com o que é e não suba com os olhos aonde não alcançar com a mão” (trecho do Discurso de Posse do Sr. Miguel Couto, Academia Brasileira de Letras).
Um triunfo romano era uma cerimônia da antiga Roma, feita para homenagear publicamente o comandante militar de uma guerra ou campanha no estrangeiro notavelmente bem sucedida e para exibir as glórias da vitória romana. Ao percorrer a Via que atravessava o Fórum Romano, ovacionado pela população, um escravo ia junto do comandante, um pouco atrás, segurando a coroa de louros, ou láurea, sobre sua cabeça e repetia-lhe incessantemente “Tu não és deus”. Isso para que não se perdesse em vaidade o bom comandante.
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Referências
HELLINGER, B. Ordens da ajuda. Patos de Minas: Atman, 2005. 248 p.HOLTZ, S. V. e BALLONI, A. J. Aspectos sociotécnicos das TI & Relacionamento Humano & Sinergia. RISTI – Revista Ibérica de STI, Nº 1. p. 67, junho de 2008.
OUAKNIN, Marc-Alain. Tsimtsoum: introduction à la méditation hébraïque, books.google.com.br, – 1992 – 252 páginas
RATZINGER, J. Jesus de Nazaré: da entrada em Jerusalém até a ressurreição; tradução Bruno Bastos Lins. — São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2011. 271 p.
SALDANHA, V. Psicologia Transpessoal : Abordagem Integrativa : um conhecimento emergente em psicologia da consciência. Ijuí : Ed. Unijuí, 2008, 344 p.
SALDANHA, V. Aprofundamento da Prática Transpessoal – TPT 2. Apostila do Módulo XI. Pós-Graduação Lato-Sensu em Psicologia Transpessoal. Faculdades SPEI e ALUBRAT. Turma 2011-2012. 33 p. -- não publicada.
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