Daquele tipo de gente que brilha só de estar, não importa o lugar
Sabe daquele tipo de gente que brilha só de estar, não importa o lugar? Você já viu gente que não precisa cumprimentar, porque é cumprimentado primeiro? Consegue imaginar pessoas assim? O brilho nos olhos despertava simpatia imediata em todos. Se havia inveja, eu não sei. Só sei que eles tinham tudo, eles podiam ser o que quisessem, e não havia olho gordo que pegasse neles. Eram gente especial.
Os dois separados eram especiais. Mas juntos era realmente de impressionar. Os garçons lhes davam preferência sem nunca terem pedido nada. Garçons, enfermeiros, bombeiros e professores primários parecem possuir um sexto sentido, reconhecendo de imediato personalidades nobres. Eles têm anjo da guarda grande! São profissões que vivem para servir. São protegidos. Dificilmente um garçom não reconhece de pronto uma personalidade tacanha, um espírito de porco, ou um espírito nobre. Nobre não tem nada a ver com ostentação. Tem a ver com espírito, com atitude, com o modo de ser. Um brilho especial! Limpo! Transparente!
Quando atuavam individualmente também tinham cada um o seu brilho. Ela era reta e justa, suas ações refletiam uma integridade evidente, independentemente da escala. Não sei se você entende o que eu quero dizer com justa. É um princípio que existe dentro. Não tem nada a ver com moral judaico-cristã de tradição lusitana. Justeza que não falta e não sobra. É sempre o justo. O justo e perfeito. Assim era a manifestação daquela mulher.
Quando ajudava uma afilhada que fazia faculdade, ou uma família em dificuldade, ela sempre ajudava de maneira a não se sobrepor à cena, não aceitava elogios, não recebia os louros da glória, nem se autopromovia, simplesmente ajudava e mais, permitindo que a pessoa beneficiada sentisse o sucesso como próprio, e não uma dívida. Você consegue imaginar a Justiça de um ato equilibrado? Ajuda verdadeira. Ela que podia dar tudo, dava o tudo sem sobra sem falta. Era comum ninguém além do ajudado saber das coisas que ela fazia, muitas vezes o marido ficava sabendo bem depois de tudo resolvido. Pouquíssimas pessoas conheciam os seus atos, todos reconheciam o seu brilho.
Ele, o homem do casal, não deixava de ser justo, mas não era o que chamava a atenção. Mesmo porque cometia algumas atrocidades segundo a moral judaico-cristã de tradição lusitana. Mas a sua virtude maior era a conciliação. Um profissional sempre requisitado para questões comerciais, impasses administrativos, recuperação de empresas e negócios, organização e planejamento estratégico pois conseguia fazer trabalharem juntos o advogado e o contador, o engenheiro e o médico, mas a sua atuação não se restringia às atividades profissionais, claro. Ele conhecia a mão que mexe os cordões.
Era conhecido por conversar com todo mundo. Do porteiro ao presidente. Ele podia entrar em qualquer lugar. Era impressionante a facilidade de trânsito nas mais diversas situações, nos mais diversos idiomas, em culturas tão diferentes. Ninguém barrava a sua entrada. Parecia mágica. Uma vez o diretor comercial de uma grande empresa brasileira, lhe perguntou: "Como é mesmo o seu trabalho? Você conversa, conversa, conversa e manda a nota?" É isso mesmo, ele riu. Aparentemente era isso que ele fazia. Conversava. Era um conciliador. Conciliava interesses e necessidades, anseios e limitações, ampliava o limites das pessoas. Na verdade, ajudava as pessoas a ampliarem o seu limite e conseguirem o que querem, porque ele tinha tudo e podia ser tudo o que quisesse ser.
Uma vez recebeu uma carta, inesperada, ainda mais nesta época de Internet, porque alguém se daria ao trabalho de escrever uma carta, imprimir, colocar num envelope, e enviar algo que não era um boleto de cobrança? Era de um amigo que dizia, entre outras coisas, mais ou menos assim: "(...) talvez ninguém nunca saiba a importância da sua participação naquilo que nós somos hoje." São fatos isolados, mas que ilustram muito bem quem nós estamos apresentando. Uma pessoa especial. Talvez você já tenha tropeçado nela por aí, tenha se desculpado rapidamente, porque estava com pressa, e recebido um sorriso. Gentil, simplesmente sorriu um sorriso de bondade.
Aquele homem e aquela mulher, ambos poderiam permanecer e brilhar sozinhos, solteiros, mas uma necessidade também deveria ser suprida, de dentro da tradição, de dentro do comum, afinal eles eram pessoas comuns. E assim deveriam parecer. Comuns!
Mas, como casal, era realmente impressionante. Eram frequentemente convidados em diversas partes do mundo por sua habilidade de inspirar e iluminar ambientes com sua presença. Em reuniões formais, informais, ocasionais, sua presença às vezes sutil, outras contundente, sempre eram bálsamo e luz, esperança que alimenta os espíritos conturbados deste começo de era. Onde a vida não se expressa mais somente pelo três mais quatro é igual a sete. Sem negar essa possibilidade, reconhecem que três mais quatro também é igual a cinco. Basta mudar de dimensão. Ah! Essa Matemática!
Eram estrelas de um outro firmamento social, orbitando em constelações distintas.
Estrelas de Outro Céu
Sob um céu de algodão e estrelas de sal,
Onde o sertão canta em melodias agrestes,
Viviam almas que a seca não igual,
Em constelações distintas, seres aquecidos.
Em suas órbitas, um baile sem igual,
Roda de viola, canções de amor e dor,
Sob a luz da lua, um farol celestial,
Que guiava seus passos, noite após noite, a percorrer.
Em cada olhar, um universo a se desvendar,
Em cada sorriso, um oásis no deserto,
Em suas vidas, a poesia a reinar,
Um canto de liberdade, um grito de acerto.
E assim, orbitavam, distantes do mundão,
Em sua própria galáxia, um reino de ilusão.
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